
Das lembranças mais antigas,
um travesseiro pequeno
de penas;
fronha bordada com dois gatinhos
azul
rosa
e um novelo de linha amarelo.
Sol da manhã desenha luzes no tapete floreado da sala.
Cortina balança pelo quadro da janela.
E, no meio da paisagem da sala,
um bebê.
Rola pelo brilho
de flores,
folhas do tapete de sol.
Abraça travesseiro
Beija azul.
Beija rosa.
Beija amarelo.
Molha os olhos dos gatinhos
e a linha do novelo.
E a avó olha a menininha
tão cheia de sal e sol
devolvida à casa,
vida,
luz.
Sente canteiros de junquilhos,
cheiros da horta de feijões,
pimentões e milho,
salsa e cebolinha,
feixes de louro,
roncadores de couro,
histórias e cantigas,
meias cerzidas junto ao fogão,
cobertores exalando verão
e a gata preta Luna .
Hoje, quando estou triste e quero voltar
(alguém
algum lugar)
lembro do azul,
rosa,
eamarelo
dos gatinhos e novelo de linha.
Sinto carinho dos avós:
abraçam a volta da criança
que, de saudade, quase se foi.
E quero rolar, mais uma vez, pelo amor
e pela luz
do tapete limpinho
e coberto de cor.